Como ensinar aos seus filhos bons hábitos alimentares?

A queixa de que o filho não come bem é uma das mais comuns e antigas nos consultórios pediátricos. A preocupação é legítima, mas há suspeitas de que, se os pais se preocupassem menos e relaxassem mais, boa parte do problema estaria resolvida. “Se a felicidade da família depende do que o filho de quatro anos come, ele está frito”, avisa o pediatra Fabio Ancona Lopes, presidente do departamento de nutrologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Explica-se: os sensores que regulam a fome e a saciedade estão em uma esfera do sistema nervoso central ligado às sensações primitivas dos indivíduos; estímulos intelectuais e afetivos acionam outras esferas. Se, na hora de comer, essas esferas entrarem em conflito –por exemplo, se a sensação de fome ou de saciedade não corresponder à percepção emocional de que a mãe “está feliz” com o que a criança comeu–, o circo estará armado.

E haja circo. Do aviãozinho à chantagem, da verdura escondida às promessas, pais e mães acabam achando que qualquer tentativa é válida. O problema é que essas estratégias não costumam funcionar sistematicamente. Por isso, mesmo quando os pais conseguem fazer com que a criança engula o alimento desejado, não se obtém o mais importante: criar o hábito da boa alimentação.
Misturinhas

Seguem 2 Dicas que podem fazer toda a diferença:

MISTURINHAS

1 – Misturar alimentos não é bater tudo junto em uma pasta sem cor nem gosto definido. É importante deixar a criança entrar em contato com sabores variados e aprender a diferenciá-los. Mesmo em uma sopa feita com vários legumes, escolha a cada vez um que será predominante, na cor e no sabor: cenoura, beterraba, mandioquinha etc.

2 – Nas sopas de legumes, o melhor é amassar os ingredientes com o garfo, sem passar pelo liquidificador ou pela peneira para conservar as fibras dos alimentos.

3 – Acrescente legumes cortados bem fino no omelete ou no recheio de panquecas. Eles também podem entrar em croquetes, almôndegas e hambúrgueres feitos em casa.

4 – Incremente a massa da panqueca com espinafre (bata no liquidificador 4 ovos, 500 ml de leite, 1 colher (sopa) de manteiga derretida e 1/3 de maço de espinafre cozido, espremido e picado. Junte 200 g de farinha de trigo, bata até ficar homogêneo e frite em frigideira antiaderente).

5 – Yakissoba, macarrão japonês feito com legumes e carnes, é um ótimo exemplo de mistura saudável e completa que a maioria das crianças gosta de comer. Você pode comprar pronto ou fazer uma versão em casa (use os legumes que tiver à mão, massa longa e shoyu – não use sal).

6 – Inclua nas refeições comidas que a criança pode pegar com as mãos: cenoura baby, tomate-cereja, espiga de milho, hortaliças cortadas em palito (erva-doce, pepino).

ARTES VISUAIS

7 – Coloque os alimentos que compõem a refeição separadamente no prato ou em cumbucas individuais. Eles devem ter cores e texturas diferentes. Deixe a criança se servir sozinha e provar cada uma das diferentes porções.

8 – Não cozinhe demais os legumes. Quando estão crocantes, além de serem mais interessantes visualmente, porque mantêm a forma e as cores ficam mais vivas, eles são também muito mais saborosos.

9 – Para deixar a salada mais atraente, espalhe sobre as folhas croutons, batata-palha, ovo cozido picado, kani desfiado ou pedaços de frutas amarelas e vermelhas (para contrastar com o verde), como manga ou morango.

10 – Faça desenhos em cima do purê de batata. Nada complicado: pode ser um círculo ou uma espiral com ervilhas frescas ou congeladas. Não use as enlatadas – a questão não é apenas nutricional, é estética, porque as ervilhas de lata são moles demais e sua cor não é tão bonita.

11 – Outra ideia é espetar flores de brócolis japonês cozidas al dente sobre o purê. Fica mais gostoso quando é a própria criança quem faz a decoração de seu prato.

12 – Cremes ou pastas de vegetais servidos sobre torradas, frutas e legumes no espetinho também são maneiras simples de valorizar o visual da comida.

13 – Espante o tédio da mesa variando o preparo de cada alimento: um dia sirva cru, outro em forma de bolinhos, ou refogado, cortado em rodelas, ralado etc.

14 – Brincar com a apresentação do prato não significa esconder algum tipo de alimento. Chuchu é chuchu, tomate é tomate, mesmo que eles sejam, por exemplo, apresentados em forma de flor.